Athos Rache Filho, engenheiro nascido no Rio de Janeiro, lança o seu segundo romance, Tannat (Fólio Digital, 2024) na próxima semana, em São Paulo. Inspirado na saga de seu ancestral, Sylvestre Rachebourg, o livro começa com um personagem-narrador contemporâneo que está em terras paulistanas resolvendo pendências da vida adulta quando, pelo exercício da meditação, é subitamente transportado para a embarcação na qual os seus ancestrais vieram dos países bascos franceses, anos atrás, para o Brasil. Tudo isso através da memória e da invenção, mas sobretudo pela ligação que existe entre ele e seus antepassados.
Para construir o retrato dessa ancestralidade o autor empreendeu uma vasta pesquisa, não só sobre a sua família, mas também sobre a história do país, de modo que a trajetória pessoal e a trajetória histórica correm juntas no livro. Esse processo resulta numa galeria de personagens bem robusta, com personalidades consistentes e marcantes, dentre as quais destacam-se mulheres excepcionais, tão ou mais impactantes que os personagens masculinos, relacionadas ao desejo de liberdade (em muito representado pelos cavalos, grandes símbolos de liberdade) e o desejo erótico, a sensualidade dos corpos ligada a certo misticismo que dota o romance de ares misteriosos e envolventes.
A ambientação é um ponto importante no livro, que transita por diferentes lugares, dentro e fora do Brasil. A relação das personagens fictícias e históricas com o espaço, a condição de estrangeiro e o modo com que se relacionam com a natureza são profundamente explorados ao longo da narrativa. É também a ambientação que determina a importância da uva Tannat na construção do romance.
Apesar de muito realista, especialmente em relação às agruras dos processos históricos que registra, o romance tem uma verve um tanto otimista e harmônica que tende a destacar o positivo na experiência dos personagens. A noção de destino que permeia toda a narrativa — a forte presença cigana nas páginas é um indicativo disso — a fecha num círculo, num retorno à futura descendência que abre o livro, reforçando a reflexão sobre o quanto a ancestralidade determina o destino dos seres.
O lançamento da edição ilustrada de Tannat acontece na próxima segunda-feira, dia 10 de junho de 2024, no Bar Balcão (Rua Doutor Melo Alves, 150, Cerqueira César), a partir das 19h. Entrada franca.
>> Este texto é um publieditorial que reproduz integralmente a opinião do LiteraTamy.
Assista à entrevista com o autor no canal do LiteraTamy:
Tamlyn Ghannam
Graduada em Letras (FFLCH - USP), mestranda no IEB-USP e pesquisadora de narrativas brasileiras contemporâneas, é idealizadora do projeto multimídia LiteraTamy, que desde 2015 dispõe-se a difundir a literatura como prática revolucionária.
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