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Banca Tatuí aposta no trabalho independente


João Varella passou a infância em Guaíba, no interior do Rio Grande do Sul, e tinha a banca de jornal da cidade como o lugar para estar em dia com o mundo. Com o tempo, porém, seu fascínio pelas bancas foi minguando, resistindo apenas um pequeno resquício de afeição que o fazia perguntar: por que elas se tornaram tão desinteressantes? Essa questão permaneceu latente durante muito tempo na vida do editor, acompanhando suas mudanças para Curitiba, Buenos Aires e São Paulo, onde em 2014, junto de sua companheira Cecilia Arbolave, ele decidiu reavivar a noção de banca como espaço cultural que promove sensações de pertencimento, abrindo a Banca Tatuí.


Ter uma banca não era a ideia principal dos dois. Segundo Cecilia, desde que fundaram a editora Lote 42, em 2013, eles estiveram “procurando um lugar para mostrar os livros, [...] um lugar que as pessoas pudessem conhecer, que a gente pudesse contar as histórias por trás dos livros”. A banca apareceu à venda providencialmente em frente ao restaurante em que João almoçava quase todos os dias, apresentando-se como esse lugar desejado, uma possibilidade de atingir dois objetivos por um só meio. E assim foi.


Batizada de Tatuí em homenagem ao nome da rua em que se instala, a banca está mais do que assentada enquanto espaço aberto para trabalhos independentes, como uma mostra permanente que segue os princípios da Feira Miolos (reunião anual de centenas de editoras pequenas que expõem seus trabalhos em São Paulo), também organizada por Cecília e João. A banca trabalha com variados tipos de publicações impressas, com mais de 230 fontes — produções de editoras, coletivos e artistas autônomos integram o acervo. Seu norte, para além dos “independentes, sem preconceito!”, é a diversidade de temáticas e formatos aliada a edições cuidadosas, diferentes das geralmente expostas pelas livrarias tradicionais, em grande parte formadas por livros de editoras graúdas.


Seus 6m² foram revitalizados e modernizam a ideia costumeira de banca. Feita de madeira, com espaço para que os visitantes sentem, leiam e conversem, ela chega mesmo a inovar o que já é inovador: além de seu design interno aconchegante e inusitado e do balanço disponível para quem quiser se divertir enquanto lê, seu telhado é também um palco que de vez em quando recebe bandas para apresentações durante lançamentos de livros. As portas abertas para a rua garantem a variedade do público, que abarca moradores do bairro, turistas distraídos, clientes informados e quaisquer pessoas com olhar curioso para o que há de colorido em São Paulo.


Se João e Cecília procuravam construir um espaço dedicado às criações originais sem os problemas recorrentes no relacionamento entre grandes livrarias e pequenas editoras, eles fizeram mais do que isso. Hoje, a Banca Tatuí serve como modelo de iniciativa literária competente e responsável tanto com seus colaboradores quanto com seu público, o tipo de lugar que convida para entrar — e ficar.



Onde? Rua Barão de Tatuí, 275 - Santa Cecília - São Paulo - SP CEP 01226-030

Horário de funcionamento? Das 10h às 19h, de segunda a sábado



Saiba mais sobre a Banca Tatuí no vídeo que gravamos para o canal do LiteraTamy:


 

Tamy Ghannam

Graduada em Letras (FFLCH- USP) e pesquisadora de narrativas brasileiras contemporâneas, é idealizadora do projeto multimídia LiteraTamy, que desde 2015 dispõe-se a difundir a literatura como prática revolucionária.

 

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